Noite do Dorama: Pequena Floresta

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Seja bem-vindo à nossa sessão de K-Movie Night — um recurso mensal onde preparamos a pipoca, colocamos uma máscara facial e nos acomodamos com um filme coreano que merece ser lembrado. Com tantos filmes agora disponíveis para streaming (com legendas!), este é o momento ideal para colocar em dia todas aquelas obras que perdemos e que possuem nossos atores de dorama favoritos.

Cada mês, escolhemos um filme, escrevemos uma resenha e nos encontramos aqui para discutir se vale a pena assistir ou não. Simples assim. O que você precisa fazer é relaxar e se juntar a nós nos comentários!

RESENHA DO FILME Pequena Floresta

Quem consegue resistir ao charme de Kim Tae-ri? (Aposto que ninguém que assistiu a Twenty Five Twenty One consegue). E enquanto nos preparamos para seu novo dorama previsto para estrear em outubro, eu não consegui esperar para vê-la novamente na tela e lembrar o porquê de admirá-la tanto (dica: ela tem um talento natural).

Pequena Floresta possui um dos trailers mais cativantes que já vi, especialmente se você está em busca de algo tranquilo. Baseado em um mangá slice-of-life e uma adaptação cinematográfica de duas partes do Japão, é um filme que parece perfeito para relaxar e se deixar levar por sua serenidade. Além disso, a obra, sua renomada diretora feminina (Yim Soon-rye) e ambas as atrizes principais foram indicadas a uma infinidade de prêmios quando o filme foi lançado em 2018. E se tudo isso não fosse suficiente para me convencer, também temos a participação de Ryu Joon-yeol para apimentar a história.

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Começamos no inverno. Uma quietude envolvente e sombria abraça nossa protagonista, HYE-WON (Kim Tae-ri), enquanto ela retorna à casa rural em que cresceu. Ela acaba de voltar de Seul, onde sua carreira e relacionamento não deram certo como desejava. Agora, ela retorna para se esconder e saciar sua fome — já que a comida instantânea na cidade grande não a satisfazia da mesma forma que as refeições do campo.

Visualmente, compreendemos muito disso. Hye-won chega à casa vazia, fria e faminta, mas logo faz uma fogueira, e parte para colheitar repolhos do solo congelado, preparando um ensopado quente que observamos enquanto ela devora. Através de uma cena sem palavras, entendemos: aqui, suas necessidades estão sendo atendidas.

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Hye-won garante a si mesma que ficará apenas alguns dias, mas a trama do filme se estende por um ano inteiro, atravessando as quatro estações, enquanto ela se readapta à vida rural. Ela conta com duas amigas na vila — uma, EUN-SOOK (Jin Ki-joo), que nunca morou em outro lugar, e outra, JAE-HA (Ryu Joon-yeol), que também veio de Seul, mas se sentiu desiludido pela monotonia do trabalho e decidiu voltar para se tornar agricultor.

A outra presença no filme é a mãe de Hye-won (Moon Sori), que na verdade é uma ausência sentida de maneira intensa. Descobrimos que logo após Hye-won fazer o exame de admissão à faculdade — sonhando em se mudar para Seul para estudar — ela voltou para casa e encontrou apenas uma carta de despedida da mãe. Hye-won fica de coração partido e furiosa, decidindo levar uma vida boa para provar que não precisa dela.

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No entanto, a vida em Seul não era como ela sonhava. Ela não encontrou as respostas que buscava e passa seus dias tranquilos no vilarejo se perguntando se sua mãe também encontrou o que procurava. Na verdade, tudo que Hye-won faz lhe lembra da mãe. A culinária, o plantio, a colheita e o preparo da comida estão todos ligados à sua infância, onde ela e sua mãe parecem ter tido uma relação bastante próxima após a morte de seu pai, quando ainda era criança.

A ausência da mãe é a única verdadeira tensão do filme, que por sua vez carece de conflitos mais intensos ou uma trama acentuada. Este não é um relato que avança rapidamente. Ao contrário, ele se ancora nas texturas da vida cotidiana: os tacos de madeira ásperos e a suavidade dos cobertores de cama. O ensopado borbulhando enquanto a massa é incorporada ao caldo. Potes de vidro nas prateleiras da cozinha com a luz filtrando-se através deles. Há uma vitalidade tátil em cada canto dessa cidade e a direção de arte e a cinematografia são tão impressionantes que em certos momentos parecia que eu poderia sentir o aroma da comida ou a brisa do campo em minha pele.

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Em contraste, os flashbacks de Seul são sem vida e planos. Lá, a geladeira de Hye-won está cheia de alimentos que vão estragar porque ela está ocupada demais para comê-los. O tempo no campo é distinto, onde a acompanhamos enquanto ela limpa a neve, colhe os vegetais, prepara as refeições do zero e come — e come — e come. Literalmente, 50% do filme é dedicado às refeições. Mas existe uma questão subjacente que permeia todas essas atividades prolongadas: Ela realmente está no centro da vida? Ou isso é apenas uma distração da vida real?

Enquanto observamos Hye-won cumprir suas tarefas, há um momento em que ela diz: “Por mais que eu arranque as ervas daninhas, elas crescem como minhas preocupações.” O tempo continua se estendendo e, ao chegarmos ao outono, encerrando o ciclo do ano, Hye-won ainda segue ocupada com suas atividades. O momento decisivo é perceber o que realmente é importante. Sim, ela voltou à cidade para recuperar uma vida familiar, mas é também a vida que vivia com sua mãe.

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Este é um filme para ser assistido pelas sensações. As texturas, as cores e, de alguma forma, até os sabores se manifestam de um jeito que fazem o filme fluir do início ao fim — mesmo que a história não seja movimentada. Desde o princípio, sabemos quais são os problemas. Não existem grandes mistérios ou altas apostas. E ainda assim, eu segui a narrativa, como se estivesse assistindo um rio fluir continuamente sem a possibilidade de um verdadeiro desfecho.

Ainda assim, apesar de poder esse ter sido o propósito e a intenção do filme, a falta de conflito e conexão me deixou um pouco desapontada com o desfecho. Hye-won deixou para trás um namorado em Seul sem dar explicações e seus sentimentos em relação a ele são ambivalentes. As motivações de sua mãe para desaparecer permanecem obscuras. E as três amigas parecem satisfeitas apenas em estar juntas, mas novamente, sem qualquer ligação real. Neste mundo, as pessoas saem e voltam como querem, e todos as recebem de braços abertos, ao invés de se machucarem com isso.

É um filme bonito, sereno, que não te deixará incomodado — mas também não me tocou da forma que eu esperava. Mesmo estando visual e sensorialmente enraizado com todas aquelas sementes que Hye-won planta, parece um pouco desconectado emocionalmente. Ou talvez isso seja apenas uma parte da proposta? Que as pessoas, assim como as colheitas, estão em um ciclo, retornando às nossas vidas repetidamente? Talvez o que interpreto como uma falta de despedidas seja apenas uma forma de afirmar que — junto com os tomates e as caquis — as pessoas que você se importa certamente voltarão.

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Junte-se a nós em setembro para nossa próxima K-Movie Night e vamos fazer uma festa disso! Estaremos assistindo Love Reset (2023) e postaremos a resenha na última semana do mês.

Quer participar dos comentários quando a postagem for publicada? Você tem 3 semanas para assistir! Prefere esperar pela resenha antes de decidir se vai assistir? Nós cobrimos isso para você.

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